Vamos falar um pouquinho desse tema tão interessante e tão prevalente na população que são as doenças de tireoide? As principais condições que podem acometer essa região são Hipotireoidismo, Hipertireoidismo, Nódulos e Cânceres da tireoide.
O hipotireoidismo, como o próprio nome já sugere (hipo = pouco), é uma condição na qual a glândula tireoide produz uma quantidade menor de hormônios do que deveria. Com isso, alguns sintomas podem passar a ocorrer, como cansaço, sonolência, inchaços, lentidão de raciocínio, constipação intestinal, ganho de peso, entre outros.
A causa mais frequente dessa doença é a autoimune, conhecida como hipotireoidismo de Hashimoto, em homenagem ao médico japonês que primeiro a descreveu.
Como em toda doença autoimune, os anticorpos (estruturas que funcionam como defesa do nosso corpo) atacam células do nosso próprio organismo, levando à sua destruição progressiva.
Existem também outras causas menos comuns de hipotireoidismo como, por exemplo, reação após tratamento com iodo radioativo (que se faz para hipertireoidismo), uso de algumas medicações (amiodarona, para arritmia ou lítio e carbamazepina, para transtornos psiquiátricos), radioterapia do pescoço, entre outras.
Porém, muitas vezes a causa não consegue ser determinada. Esse fato não atrapalha o tratamento, apenas é preciso partir para o tratamento sem causa definida, mas vale ressaltar que ele é tão eficaz quanto todos os outros nos quais se sabe a origem do problema.
O diagnóstico é muito fácil de ser realizado e envolve basicamente:
• Dosagens sanguíneas dos hormônios TSH e T4 livre (às vezes T3 e T4);
• Dosagens de anticorpos, como Anti TPO e Anti tireoglobulina;
• Ultrassom de tireoide (não é propriamente necessário ao diagnóstico, porém auxilia no raciocínio do profissional para conduzir o tratamento da melhor forma).
O tratamento é igualmente simples e consiste no uso de reposição hormonal com levotiroxina.
Agora, é importante também explicar que existe uma condição específica, o hipotireoidismo da mãe durante a gestação, que precisa ser cuidada com muita atenção, pois pode afetar a formação do sistema nervoso central do feto, levando-o a uma doença chamada de cretinismo, na qual, por via de regra, há comprometimento do QI da criança. Por isso, é essencial rastrear o hipotireoidismo logo no início da gestação.
Já o hipotireoidismo chamado de congênito – quando o feto nasce com hipotireoidismo por disfunção em sua própria glândula tireoide – é diagnosticado muito precocemente, pois pode ser avaliado no teste do pezinho, assim como várias outras doenças.
Em qualquer caso, após o diagnóstico e início do tratamento com acerto das doses de levotiroxina, o paciente deixa de ter sintomas e assim permanece ao longo dos anos, precisando apenas de consultas de rotina anuais com o endocrinologista.
O hipertireoidismo, também como o próprio nome sugere (hiper = muito), é uma condição na qual a glândula tireoide produz mais hormônios do que deveria. Assim, alguns sintomas começam a ocorrer, como batimentos cardíacos acelerados, tremores, olhos saltados, pele quente e úmida, diarreia, irritabilidade e instabilidade emocional, perda de peso, dentre outros.
A causa mais comum de hipertireoidismo (assim como no hipotireoidismo) é a autoimunidade. Nesses casos, leva o nome de doença de Graves, também em homenagem ao médico que a descreveu.
Os anticorpos responsáveis por provocar a doença de Graves se chamam TRAB (anticorpo anti receptor de TSH), que podem ser encontrados por um exame de sangue. Portanto, se o TRAB for positivo no sangue, estaremos diante de um hipertireoidismo autoimune.
Nesse tipo da doença existe a possibilidade de ocorrer um sintoma chamado de exoftalmia, que é a protrusão dos olhos para frente, pois esse mesmo anticorpo que ataca a tireoide pode também atacar o tecido atrás dos olhos, causando uma reação inflamatória e empurrando-os para frente.
Outras causas de hipertireoidismo incluem doses inadequadamente altas de levotiroxina para tratar hipotireoidismo e nódulos tireóideos produtores de hormônio (doença de Plummer).
O hipertireoidismo geralmente não oferece grandes dificuldades no tratamento, mas, na maioria das vezes, não é tão simples de se controlar quanto o hipotireoidismo.
O diagnóstico basicamente é feito com dosagens dos hormônios TSH e T4 livre (às vezes T3 e T4) e do anticorpo TRAB. Para os casos de hipertireoidismo, o ultrassom nos dá informações geralmente mais úteis e relevantes do que no hipotireoidismo.
Quanto ao tratamento, existem algumas possibilidades, sendo a mais comumente usada a que envolve prescrição de medicamentos anti-tireideanos, como o Metimazol, por exemplo. Essas drogas desaceleram a produção de hormônios tireóideos pela glândula.
Outras opções para se tratar o hipertireoidismo são a aplicação de iodo radioativo em baixas doses e a retirada cirúrgica total ou parcial da glândula, método hoje em dia pouco utilizado por ser o mais invasivo.
O hipertireoidismo, quando tratado precocemente, geralmente tem uma evolução benigna, sem maiores transtornos. Já a doença não tratada e de longo prazo pode gerar consequências mais graves, como arritmia cardíaca, insuficiência cardíaca, osteoporose, hipertensão arterial, entre outras.
Há ainda uma situação de maior gravidade que pode ocorrer no hipertireoidismo e que não é tão comum, felizmente. Trata-se da “Tempestade Tireotóxica”. E com esse nome coisa muito boa não poderia ser, não é?
Tempestade tireotóxica significa uma descarga hormonal intensa e abrupta dos hormônios da tireoide na corrente sanguínea, levando o paciente a um quadro drástico de agitação, ansiedade, aceleração dos batimentos cardíacos, hipertensão arterial, e podendo até evoluir para situações extremas que exijam a internação em UTI.
Os Nódulos de Tireoide são extremamente frequentes na população, mas a notícia boa é que menos de 10% deles são malignos. Na maioria das vezes, eles são diagnosticados sem que haja algum sintoma, meramente porque foi solicitado um ultrassom do pescoço ao paciente que acaba mostrando um ou mais nódulos.
Em alguns casos, também encontramos cistos pelo ultrassom. Eles são como bolhinhas de um material gelatinoso produzido pela tireoide e nunca evoluem para malignidade. Ou seja, cistos são sempre benignos.
Voltando aos nódulos, basicamente 3 situações devem ser levadas em consideração para decidirmos se apenas os acompanhamos periodicamente com ultrassom ou se fazemos uma biópsia (procedimento chamado P.A.A.F – punção aspirativa por agulha fina). São elas:
• Tamanho do(s) nódulo(s): de praxe costumamos puncionar nódulos acima de 1,5 cm, porém nódulos menores merecem investigação caso apresentem características suspeitas no ultrassom.
• Crescimento dos nódulos: nódulos que apresentam crescimentos consideráveis no período entre um ultrassom de controle para outro, por via de regra merecem investigação com biópsia.
• Características ultrassonográficas suspeitas: como mencionei acima, nódulos mesmo bem pequenos devem ser investigados quando apresentam imagens suspeitas de malignidade no ultrassom, como microcalcificações, pseudo-inclusões nucleares, entre outras.
Quando os nódulos são benignos, fazemos apenas acompanhamento periódico com ultrassom, já quando são malignos, fazemos a retirada cirúrgica da tireoide. Na maioria das vezes, retira-se a glândula toda e às vezes, ainda, há retirada de parte dos gânglios do pescoço também, o que chamamos de esvaziamento ganglionar.
Cistos de tireoide, como eu já havia dito, são apenas acúmulos de material gelatinoso produzido pela própria tireoide, sem material sólido composto por células. O formato é muito semelhante ao de nódulos, mas, como os cistos são sempre benignos, não necessitam de acompanhamento com ultrassom.
São 4 os tipos mais comuns de cânceres de tireoide: papilífero, folicular, medular e anaplásico. Entre eles, os dois mais frequentes e também com melhores prognósticos são papilífero e folicular.
Esses 2 cânceres são, na maioria das vezes, curáveis com retirada cirúrgica da glândula, com ou sem auxílio de dose de iodo radioativo complementar. Eles são chamados de carcinomas bem diferenciados da tireoide e apresentam taxas de cura muito altas, sendo que o tipo papilífero é ainda mais benigno que o folicular.
O carcinoma medular da tireoide é, felizmente, uma condição muito rara e, em grande parte das vezes, associada a casos semelhantes na família. Seu tratamento é difícil, pois, além da retirada cirúrgica da glândula, envolve o uso de vários quimioterápicos, com prognóstico a longo prazo geralmente ruim. Muitas vezes acontece em associação com outras neoplasias endócrinas.
Já o carcinoma anaplásico da tireoide é o tipo mais agressivo de todos, sendo seu prognóstico muito ruim, geralmente levando o paciente à morte em pouquíssimo tempo. Porém, ao mesmo tempo, é o câncer mais raro da tireoide.
Bem, acho que com esse papo conseguimos aprender um pouquinho sobre as doenças mais comuns da tireoide. Mas, se você tiver mais dúvidas, será um enorme prazer esclarecê-las por aqui ou em qualquer uma das minhas redes sociais.