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Obesidade

Hoje em dia, a obesidade é o principal problema enfrentado nos consultórios de endocrinologia. Desde a década de 70 os índices de obesidade vêm aumentando muito rapidamente. Já estamos atualmente com cerca de 60% da população brasileira acima do peso e, desses, cerca de 15% tem obesidade propriamente dita.

A principal causa da obesidade é a alimentação​

Vamos então entender melhor sobre alguns aspectos importantes da obesidade para podermos pensar juntos soluções que minimizam essa condição que tanto tem atrapalhado nossa qualidade de vida.
A obesidade é uma doença que chamamos de multifatorial, ou seja, vários aspectos contribuem para o seu aparecimento e manutenção. A “tendência genética” é inegável. Quando nenhum dos pais é obeso a chance de a pessoa ser obesa não é grande, mas quando um deles é essa chance sobe para mais de 40%. Já quando os dois são, esse número praticamente dobra.

Calma, não fique triste se o seu pai e/ou sua mãe estão com sobrepeso, pois ser obeso não está na programação genética de ninguém! O que as pessoas podem ter é uma propensão genética ao ganho de peso, mas o fato de se chegar a desenvolver obesidade sempre envolve erro alimentar, com exceção de doenças muito raras que não vem ao caso nessa nossa conversa aqui.

Como acabei de mencionar, erro alimentar sempre está presente no quadro de obesidade. Há uma grande controversa sobre esse tema, pois hoje em dia estamos vivendo um momento ímpar, em que existe uma divisão entre os profissionais de saúde que lidam com emagrecimento sobre o pensamento de qual tipo de alimentação nos favorece.

A situação conflituosa que vivemos (principalmente após 2010)

No Brasil, a maior parte dos profissionais que se propõem a cuidar de obesidade ainda usam a técnica de prescrição de dieta baseada em restrição calórica, pois acreditam que o desequilíbrio no balanço energético, puramente, seja o responsável pelo ganho de peso.

O que isso quer dizer? Vamos do princípio. Balanço energético, resumidamente, nada mais é que: o quanto se come menos o quanto se gasta. Ou seja, se comermos mais calorias do que conseguimos queimar esse excesso de energia que sobra nos fará engordar.

Esse conceito não está propriamente errado, no entanto a questão é muito mais complexa do que isso. Vou apresentar agora 2 modelos de pensamento para quando se pretende raciocinar sobre balanço energético no intuito de tornar claro o que estou querendo explicar.

Modelos de pensamento em nutrição

O primeiro modelo é o mais utilizado pelos médicos e nutricionistas no Brasil até os dias de hoje. Nele, leva-se em consideração quase que pura e simplesmente o conceito de balanço energético que mencionei anteriormente: se eu comer menos e gastar mais eu emagreço.

Sim, essa afirmação é verdade, mas apresenta possíveis problemas. Digo problemas, pois vemos esse modelo falhar muito frequentemente. Quem já não tentou comer menos (com ou sem ajuda de remédios) e gastar mais fazendo exercícios, emagreceu um pouco no começo e depois voltou a engordar, às vezes até mais do que já estava anteriormente?

Os possíveis erros são os seguintes: via de regra essas dietas têm como principal intervenção cortar calorias do dia sem necessariamente focar no valor nutritivo do que se come. Desse modo, as pessoas geralmente começam a sentir fome.

Isso acontece primeiro porque estão comendo intencionalmente um bom tanto de calorias a menos e segundo porque nem sempre o que se está comendo é algo bastante nutritivo.

Há ainda uma questão adicional, que é o fato de boa parte desses alimentos serem ricos em carboidratos e, portanto, causarem elevação da insulina no sangue, provocando o aumento da fome e o bloqueio na queima da gordura corporal.

Já o segundo modelo nutricional, que está ganhando cada dia mais adeptos ao longo do mundo, inclusive no Brasil, é pensar primeiro na qualidade do que se come e deixar as quantidades se ajustarem naturalmente. Isso significa também colocar o conceito mais simplista de balanço energético meio que em segundo plano.

Como assim? Explico melhor.

A proposta é fazer escolhas de alimentos de alto valor nutritivo, o que por si só já promove uma maior eficiência do estímulo de saciedade, nos fazendo comer menos e menos vezes ao dia, sem sofrer.

Associado a isso, optamos por alimentos com quantidades reduzidas de carboidrato para não haver elevação da insulina no sangue, o que permite evitar fome precoce e disponibilizar a nossa gordura estocada como fonte de energia para nossas atividades físicas e mentais.

Logo, comendo alimentos muito nutritivos e de baixo teor de carboidrato, naturalmente comemos menos porque temos menos fome e não porque estamos intencionalmente cortando calorias do nosso dia. Entendeu a diferença?

Calorias continuam importando, ou seja, o conceito de balanço energético não está incorreto. Mas uma coisa é cortar calorias de forma intencional e outra bem diferente é nutrir-se melhor e, por consequência, ter menos fome, assim comendo menos calorias.

Falta de atividades físicas também influenciam na obesidade

Eu gostaria de lembrar algumas coisas relevantes sobre os exercícios físicos. Eles são muito importantes para melhorarmos nossa composição corporal. Isso quer dizer para mantermos e até aumentarmos nossa massa muscular, melhorando não só nossa saúde muscular e óssea, mas também dando contornos mais estéticos ao nosso corpo.

No entanto, a prática de exercícios físicos em si não é uma estratégia eficaz quando o foco é emagrecer, pois, para tal, a principal intervenção é sem dúvida mudar o que se come. Mas é fato que com o auxílio dos exercícios físicos tudo vai melhor.

O tratamento com medicamentos para emagrecer

Quando bem indicado, os medicamentos são um aliado muito eficaz no emagrecimento, no entanto, também não tem o protagonismo que a alimentação tem nesse processo.

Os medicamentos que usamos mais habitualmente são:
• strong>Sibutramina: é um inibidor de apetite. Como o próprio nome já diz, reduz um pouco o apetite, facilitando a diminuição da ingestão alimentar.
Orlistate: atua no intestino, reduzindo cerca de 30% da absorção das gorduras dos alimentos que comemos e, portanto, diminuindo a retenção das calorias da dieta.
Liraglutida: o nome comercial é Saxenda. Originalmente essa substância era utilizada para tratar diabetes até que se observou que ela provocava uma eficaz perda de peso por aumentar de maneira potente, na maior parte dos pacientes, os estímulos de saciedade. Então, foi relançada pelo laboratório fabricante em doses maiores com o intuito de se tratar obesidade.
Fluoxetina/Sertralina e outros antidepressivos: usados quando o componente de depressão/ansiedade está atrapalhando o processo de emagrecimento. Geralmente, não tem uma potência de produzir grandes resultados.
Bupropiona: é também um antidepressivo que, principalmente quando combinado com Topiramato (anticonvulsivante), atua amenizando quadros de compulsão alimentar.
Tratamento medicamentoso é sempre bem-vindo quando não há contraindicações ao seu uso, quando o paciente deseja usá-lo e/ou quando tanto o médico quanto o paciente estão cientes de que ele será o ator coadjuvante, pois o principal é sempre a alimentação.

Quando é necessária a cirurgia bariátrica no tratamento da obesidade?

Gostaria de dizer que a cirurgia é indicada apenas para casos mais extremos, com IMCs mais altos e em pacientes muito refratários a dietas. Quando bem indicada, com certeza evita complicações maiores oriundas da obesidade mórbida, mas não devemos nos esquecer dos problemas que comumente vem como consequência da cirurgia.

Entre elas estão as deficiências nutricionais, várias por problemas de absorção, diarreia crônica, flatulência, síndrome de Dumping (situação em que se experimenta intensa fraqueza após alimentação, principalmente contendo carboidratos), anemia crônica, entre outros.

Vencer a obesidade é possível!

Por tudo que falamos até agora, percebemos que vencer a obesidade realmente é um desafio, no entanto os resultados são muito gratificantes e verdadeiros quando conseguimos, em uma parceria com o paciente, individualizar o tratamento e ajudar de maneira efetiva cada pessoa da melhor maneira para ela.

É muito prazeroso vencer esse problema da obesidade junto com os pacientes, pois vivenciamos a melhora intensa na qualidade de vida de quem nos procura daí para frente, diminuindo doenças emocionais, aumentando o bem-estar e a disposição.

Ademais, é claro, todos os marcadores de saúde passam a apresentar condições melhores com o tempo, destacando-se a diminuição no risco de doenças cardiovasculares, como infarto e derrame, além de doenças respiratórias, como a asma, e osteomusculares, como as artroses, por exemplo.

Como mensagem final, gostaria de ressaltar que nossa grande preocupação com a obesidade, e principalmente com a sua epidemia, é totalmente legítima, pois ela é, de fato, uma doença. Por isso, em algum momento trará problemas mais sérios se não for enfrentada.

Mas, por outro lado, o ponto otimista que quero deixar é que obesidade tem jeito e não é tão difícil assim. Requer que se tenha empatia e confiança no profissional de saúde que está conduzindo o tratamento e que a orientação nutricional seja a mais adequada e possível para cada pessoa. Nada que conhecimento e bons diálogos não deem conta, não é mesmo?

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