Glicemia de jejum alterada em dietas de baixo carboidrato
Ao contrário do que se possa pensar a glicemia de jejum pode aumentar em pessoas que estão adotando uma estratégia de dieta com baixo consumo de carboidrato. Sim, é isso mesmo, mas tem explicação: quando estamos comendo uma quantidade reduzida de carboidrato, nossa insulina fica muito baixa o dia todo e com isso nosso corpo começa a queimar gordura (por isso emagrecemos) e lançar o produto dessa queima, que são os ácidos graxos livres (AGL), na corrente sanguínea.
A presença desses AGLs em maior quantidade no sangue, ao mesmo tempo em que temos pouca glicose, induz a maioria dos nossos órgãos e tecidos a passarem a se nutrir preponderantemente desses ácidos graxos, no entanto algumas células como as hemácias (células do sangue), células do tecido nervoso e dos rins continuam ainda preferindo a glicose como fonte de energia.
Sendo assim o corpo de maneira muito inteligente através da presença dos AGLs entra em um estado de resistência insulínica fisiológica, explico: os outros tecidos todos que captam AGLs param de captar glicose para que essa suba um pouco na corrente sanguínea e possa assim ser melhor captada pelo cérebro, rins e hemácias.
Com isso percebemos que essa resistência insulínica induzida pelo consumo baixo de carboidrato com o aumento dos AGLs no sangue é um processo adaptativo e necessário para que possamos reduzir o consumo de carboidratos (o que provoca emagrecimento) sem afetar o combustível de nenhum dos nossos órgãos.
Essa é a explicação do porquê em pessoas em dieta de baixo carboidrato a glicemia de jejum poder ficar um pouquinho elevada sem que isso traga qualquer preocupação.
Tanto é verdade o fato de esse ser um processo normal e fisiológico, que a Hemoglobina Glicada (reflete as glicemias dos 3 últimos meses) não se altera ou muitas vezes até cai, traduzindo o fato de que ao longo do restante do dia a glicemia ficou ótima.
Concluímos assim que o nosso corpo sabe fabricar e utilizar a glicose de que necessita promovendo a redistribuição da mesma para os tecidos que mais precisam dela e também fabricando glicose a partir da quebra do glicogênio presente principalmente no fígado e no músculo.
Existem outros fatores independentes que também contribuem para acordarmos com a glicemia um pouco mais alta que são:
A secreção de hormônio do crescimento (GH) que ocorre preponderantemente de madrugada aumentando nesse horário a queima de gordura, para que possamos ficar essas horas de jejum sem nenhum problema. Essa queima de gordura com consequente liberação de AGLs na corrente sanguínea, induz a uma resistência insulínica com tendência portanto de subida da glicose no sangue de manhã.
A secreção de cortisol, que é maior no início da manhã justamente nos preparando para acordar, também é outro fator que tende a deixar a glicose mais alta no sangue nas primeiras horas da manhã.
Diferença entre resistência insulínica fisiológica e patológica
Voltando um pouquinho na resistência insulínica como causa do aumento da glicose em jejum gostaria de salientar uma diferença muito importante:
Resistência Insulínica fisiológica ocorre em quem está comendo muito pouco carboidrato e nela podemos ter glicose em jejum levemente aumentada com insulina muito baixa no exame de sangue.
Resistência Insulínica patológica ocorre em diabéticos, pré-diabéticos, obesos (com síndrome metabólica) e nela podemos ter glicose em jejum mais aumentada com insulina também alta no exame de sangue.
Essa associação de glicose alta com insulina alta é danosa para o organismo e o coloca em uma situação de inflamação crônica o que aumenta sobremaneira os riscos cardiovasculares.
O teste de tolerância oral à glicose, aquele teste de 2 h que às vezes pedimos para os pacientes para fazer diagnóstico de diabetes, também pode vir levemente alterado se você vem fazendo dieta de baixo carboidrato, pois depois de um tempo nessa estratégia alimentar você passa a não ser tão apto a metabolizar uma grande quantidade de carboidrato de uma vez, mas é claro que se você começar a comer bastante carboidrato de novo em pouco tempo o exame normaliza, porém isso não significa mais saúde e sim mais doença.
Uma grande dica para sabermos se damos maior ou menor importância a valores ligeiramente elevados de glicemia é a avaliação em conjunto com a hemoglobina glicada. Se a hemoglobina glicada não estiver subindo, ou melhor, estiver caindo você está no caminho certo, se estiver subindo – sinal vermelho e aí o certo seria você procurar um profissional (endocrinologista, nutricionista) que tenha experiência com dietas de baixo carboidrato.
Bem, acho que consegui explicar um pouquinho desse assunto meio complicado a princípio mas que se pararmos para analisar é bastante lógico.
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