O diagnóstico da Síndrome dos Ovários Policísticos
A doença ainda é um desafio para os profissionais da área
De acordo com a própria Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é um transtorno desafiador de diagnosticar. Inclusive, um estudo publicado no JCEM – The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism declarou a doença como de alta prevalência, porém ainda subdiagnosticada.
Isso acontece por dois motivos. O primeiro é que muitas mulheres não procuram o endocrinologista ou ginecologista quando os sintomas aparecem, tendo em vista que eles não são graves, apesar de incomodarem. E o segundo e principal porque os critérios diagnósticos são controversos dentre as sociedades médicas.
Apesar de muita gente relacioná-la à ginecologia por se caracterizar pelo aumento nos ovários, com a presença de pequenos cistos em sua parte externa, na verdade a SOP é uma doença endócrina, pois se trata de um distúrbio hormonal. Vamos entender mais sobre ela?
O quadro clínico
Essa doença caracteriza-se pelo aparecimento de sinais ou sintomas de aumento de hormônios masculinos nas mulheres, por exemplo o crescimento de pelos grossos e pretos em locais que apenas os homens teriam, como as regiões de barba, bigode, peito, tórax, costas, abdômen e raízes das coxas.
Além disso, acne, seborreia, alopecia (queda de cabelo), irregularidade menstrual (menos ciclos menstruais ao ano do que seria o normal, ou seja, 6 ou 8 ciclos ao invés de 12, ou mesmo ausência completa de menstruação) e infertilidade também estão relacionadas ao quadro.
Ainda, podem ocorrer situações relacionadas a resistência da ação do hormônio insulina, como a síndrome metabólica, aumentos discretos do açúcar no sangue ou até mesmo diabetes. No exame de ultrassom podem aparecer cistos nos ovários (no mínimo 12 cistos com 2 a 9mm) ou ovários grandes com mais de 10 cm (símbolo de cúbico).
As causas
A causa exata dessa doença ainda é desconhecida, mas suspeita-se que tudo se origine em um problema com uma enzima chamada CYP 17, presente nos ovários e nas adrenais, que provoca uma maior produção de hormônios masculinos em ambos os locais.
Concomitantemente, existem outras condições que contribuem para o aparecimento da SOP como, por exemplo, a própria resistência à ação do hormônio insulina.
Quando a nossa insulina não consegue agir direito (ou seja, temos resistência a sua ação), o pâncreas precisa produzir cada vez mais dela para conseguir vencer essa dificuldade. Com essa quantidade muito maior de insulina na nossa circulação, algumas consequências começam a acontecer.
A insulina por si só atua em receptores dos ovários, aumentando a produção direta de hormônios masculinos. Pelo fato de nos fazer engordar, também aumenta o tamanho da nossa massa de gordura periférica.
Como nessa gordura há conversão de testosterona em di-hidrotestosterona, que é a forma do hormônio masculino responsável pela criação de pelos, provoca o que chamamos de hirsutismo – crescimento de pelos masculinos nas mulheres. Esse aumento dos hormônios masculinos nos ovários também é o fator causador da irregularidade menstrual e da infertilidade.
Diagnóstico
Como eu citei logo no início do texto, o diagnóstico dessa condição é complexo e, atualmente, é realizado por meio de consensos. O principal e mais utilizado é o consenso de Rotterdam, que considera a mulher portadora da Síndrome dos Ovários Policísticos quando ela apresenta dois dos seguintes critérios:
1. Menos de seis ciclos menstruais ao ano ou amenorreia (ausência de menstruação quando a mulher já está no período biológico fértil) ou ainda anovulação (que é quando os ovários não liberam um óvulo durante um ciclo menstrual);
2. Hiperandrogenismo clínico ou laboratorial (grande produção de testosterona, o que pode causar excesso de pelos, acnes, queda de cabelo, aumento da libido e problemas menstruais), que já tenha sido avaliado e descartou-se a relação com outras condições;
3. Imagens sugestivas de ovários policísticos em ultrassom, que incluem volume aumentado desses órgãos e do estroma (tecido de sustentação) e a presença de microcistos periféricos.
Além dos impactos físicos e psicológicos, relacionados à autoimagem e a autoestima da mulher, essa doença ainda pode afetar o emocional da paciente por causa da possibilidade de infertilidade.
Como é tratada
Por não sabermos qual é a causa exata da SOP, o tratamento se baseia em controlar os sintomas e as complicações envolvidas, como o excesso de pelos, os problemas de pele, a infertilidade e os distúrbios metabólicos (síndrome metabólica, pré-diabetes e diabetes).
Utilizamos medicamentos como anticoncepcionais, metformina (medicamento também utilizado para diabetes) e alguns outros inibidores de hormônios masculinos para evitar o crescimento excessivo de pelos em regiões da barba, costeletas e bigode.
Mas para diminuir os efeitos da Síndrome dos Ovários Policísticos é preciso também uma mudança no estilo de vida. Hábitos saudáveis ajudam e muito a regular os hormônios do corpo, por isso é importante uma dieta saudável, praticar exercícios físicos e procurar controlar o estresse.
Inclusive, já é comprovado que exercícios físicos melhoram diretamente a ação do hormônio insulina. Como na SOP boa parte dos problemas ocorrem pela dificuldade de ação desse hormônio, praticar atividades regularmente é uma excelente estratégia.
Quando falamos de alimentação saudável, o foco em alimentos in natura (baseada em comida de verdade) ou minimamente processados (que contenham baixo teor de carboidratos) é a melhor dica.
Consumir menos carboidratos também levará à diminuição da necessidade e, consequentemente, da produção da insulina. Logo, todos os sintomas que falamos da SOP que são decorrentes do excesso de insulina no nosso corpo irão melhorar. E esse tipo de alimentação ainda traz diversos outros benefícios para a sua saúde geral.
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